A água era azul-acinzentada com ondas irregulares e espumantes. O mar estava bravo, barulhento e fascinante. Gina podia cheirar a promessa de neve. Enquanto andava em direção à água, sentia a areia fria sob os pés. Com o casaco abotoado até o pescoço, ergueu o rosto para o vento, gostando da sensação. E da solidão. Deleitava-se na solidão que podia ser encontrada na madrugada de uma praia no inverno.
Bastava da vida cercada por pessoas. Nunca ficara sozinha na casa de sua tia em Beacon Hill. Gina jogou os cabelos para trás e sorriu. Nunca tivera permissão de estar só. Por baixo dos sermões sobre bom comportamento de Muriel, existia o medo de que os Weasley se provariam fortes e selvagens demais para ser controlados.
Gina tinha sido controlada, porque não havia outra saída. No começo, fazia tudo o que lhe mandavam, permitindo-se ser moldada na moça quieta que sua tia queria. Todos os outros a haviam abandonado, e ela vivera com o medo diário de que poderia ser abandonada novamente. Aprendeu a dominar o medo, mas nunca foi capaz de superá-lo. A habilidade de controlar as emoções tornou-se sua maior defesa contra as críticas de Muriel e sua própria insegurança. Mesmo quando criança, Gina tinha entendido que sua tia a criara por causa de um senso de dever. Não havia amor entre elas, apesar do fato de uma garotinha precisar desesperadamente de amor.
Gina era filha da meia-irmã de Muriel, nascida do segundo casamento do pai delas com uma mulher de sangue misto. Sangue da tribo indígena comanche. E a meia-irmã que Muriel aceitara por dever fizera a loucura de casar com um Weasley. Sangue chama sangue, dizia Muriel quando falava do que considerava a traição de sua meia-irmã ao nome e herança delas. Com Gina, estivera determinada a corrigir os erros prévios da família.
A descendência comanche devia ser ignorada. Mais do que isso, precisava ser apagada. Muriel exigia perfeição. Gina deveria ser um espelho de seus valores, opiniões e desejos. A criança aprendeu a ser cautelosa e obediente, sem questionar nada.
Gina tinha aceitado, e estudado o que a tia queria... música, balé. Durante muitos anos, o comportamento que adotara havia se tornado sua segunda natureza.
Nos momentos em que desejava alguma coisa diferente, mais excitante, reprimia as necessidades. Passou a acreditar que, se jogasse conforme as regras ganharia no final. Portanto, sua rebelião fora muito discreta e seus sonhos meticulosamente amortecidos.
Ainda assim, Muriel ficaria horrorizada se soubesse que a sobrinha gostava de restaurantes que não tinham quatro estrelas e de filmes que não fossem culturais. E de carros esportes, pensou Gina com uma risada. Caranguejos e cerveja. Parando, enfiou as mãos nos bolsos e olhou para o mar. E praias selvagens no inverno.
Era por isso que Rony se estabelecera lá?, perguntou-se quando se virou para ver os fundos do hotel Ele apreciava a paixão do mar no inverno? A herança que compartilhavam era mais forte que os anos de separação? Os anos que ele partira para jogar e ganhar, enquanto ela se submetia e se rebelava em silêncio?
Meneando a cabeça, Gina continuou andando. Não sabia nada sobre o homem com quem jantara na noite anterior. Ele era calmo e sofisticado, com alguma coisa muito fervorosa sob a superfície. Eles tinham pouco a dizer um ao outro. Mesmo quando Hermione a olhara com expressão de súplica, Gina não pôde encontrar nada mais profundo para falar.
O que uma mulher como Hermione Potter sabia sobre seus sentimentos, afinal? Crescera cercada de família e amor. Só de ver como ela se relacionava bem com Harry...
Harry, pensou Gina com um suspiro. Era impossível entender o que sentia por ele. Não estava preparada para a sensibilidade que ele demonstrou quando ela desmoronara. E mais, o insight dele sobre sua condição emocional. Entretanto, como Rony, ele também parecia encobrir algo perigoso sob a superfície. Quando o acesso de choro aconteceu, Gina sentira-se segura nos braços fortes, enquanto Harry apenas alisava-lhe os cabelos como se faz com uma criança.
Não podia negar que o homem mexia com ela, mas estava disposta a não deixar isso acontecer.
— Você acordou cedo.
Gina virou-se para encontrar Harry atrás de si. Ele estava vestido mais casualmente agora, com uma jaqueta de couro, jeans e tênis.
— Eu queria ver o sol nascer sobre a água — começou ela, então olhou para as nuvens pesadas no céu. — Não tive muita sorte esta manhã.
— Vamos caminhar. — Ele pegou-lhe a mão antes que ela pudesse responder. — Você gosta da praia?
Gina relaxou. Ele não ia pressioná-la sobre Rony ou falar do jantar da noite anterior.
— Nunca gostei muito da praia no verão — disse ela. — Mas nunca imaginei que fosse tão atraente nessa época do ano. Você vem com freqüência?
— Não realmente. Por sorte, Alan e eu estávamos aqui alguns meses atrás quando Mione foi seqüestrada, mas...
— O quê? — Gina parou, apertando-lhe os dedos.
Harry a olhou, curioso.
— Você não sabia?
— Não. Acho... que eu estava na Europa. O que aconteceu?
— Uma longa história. — Harry recomeçou a andar. — Houve uma ameaça de bomba no hotel de Rony em Las Vegas. Quando ele foi para lá a fim de lidar com as coisas, surgiu outra ameaça, uma carta endereçada a ele. Seu irmão teve um mau presságio e, assim que voltou, tentou convencer Mione a partir, mas — Harry sorriu — ela também é teimosa. Rony estava no andar de baixo falando com a polícia sobre a segunda ameaça quando um jovem a pegou.
O sorriso de Harry foi substituído por uma expressão de fúria.
— Ele a manteve por quase 24 horas, algemada à cama. Queria que Rony pagasse dois milhões pelo resgate.
— Meu Deus! — Gina pensou na a mulher de olhos cor de violeta e tremeu.
— Desde que conheço Rony, foi a única vez que o vi tão arrasado — lembrou Harry. — Ele não comia, não dormia... apenas ficou sentado ao lado do telefone e esperou. Só quando o garoto o deixou falar com Mione é que finalmente tivemos uma pista de quem era o seqüestrador. De alguma forma, isso foi pior.
— Porquê?
Dessa vez, Harry parou e a olhou. Talvez fosse hora de Gina saber.
— Quando Rony tinha dezoito anos, envolveu-se numa briga de bar. O homem que começou a briga não gostou de estar bebendo no mesmo lugar que um índio.
Os ricos olhos escuros brilharam. — Entendo.
— Ele puxou uma faca. Durante a luta, Rony foi ferido com um corte ao longo das costelas. — Harry a viu empalidecer, mas continuou no mesmo tom: — O homem acabou morrendo pela própria faca e Rony foi acusado de assassinato.
Gina sentiu uma onda de náusea e a reprimiu.
— Rony foi a julgamento?
— Ele foi absolvido, uma vez que as testemunhas do bar foram intimadas a falar sob juramen¬to, mas passou alguns meses preso.
— Minha tia nunca me contou. — Gina virou-se para olhar o mar.
— Você devia ter cerca de oito anos. Não poderia ter feito nada para ajudá-lo.
Ela poderia, disse Gina silenciosamente, pensando na boa situação financeira da tia e nas conexões influentes. E eu deveria ter ficado sabendo. Deus, ele era apenas um garoto! Fechando os olhos, tentou clarear a mente e ouvir.
— Continue.
— O garoto que seqüestrou Rena era o filho do homem que seu irmão matou. A mãe enfiou na cabeça da criança que Rony havia assassinado o marido e fora solto porque o júri tivera pena dele. Não tinha intenção de machucar Mione, somente Rony.
O mar pareceu mais violento, de repente.
— Então, Rony pagou o resgate?
— Ele estava preparado para pagar, mas não foi necessário. Mione telefonou no momento que ele estava saindo para fazer os arranjos finais. Ela golpeara o garoto com uma frigideira e o algemara à cama.
Perplexa e divertida, Gina murmurou:
— Ela fez isso?
Harry sorriu.
— Ela é mais forte do que parece.
Meneando a cabeça, Gina começou a andar de novo.
— E o que houve com o garoto?
— O julgamento é no fim desse mês. Mione está pagando um advogado para defendê-lo.
Ela o olhou. O semblante continha um misto de raiva e admiração.
— Rony sabe disso?
— É claro.
— Eu não sei se poderia perdoar tão facilmente. — Rony não concorda exatamente, mas está resignado — comentou Harry. — E quando tivemos Mione de volta, segura, foi difícil recusar-lhe algo. Minha primeira reação foi deixar o garoto preso pelos próximos cinqüenta anos.
Gina inclinou a cabeça para estudar-lhe o rosto.
— Duvido que ele tivesse uma chance se você pudesse acusá-lo. Li algumas transcrições de seus julgamentos. Você é terrível. — Ela sorriu. — Por que não concorreu a promotor do estado novamente?
— A política tem muitas paredes. Imagino que você concorreu com Barclay, Stevens e Fitz...
— Barclay é o epítome do advogado seco e sério. "Cara srta. Weasley, por favor, tente se lembrar de sua posição. Um membro da nossa firma nunca levanta a voz ou desafia um juiz no tribunal" — imitou ela, engrossando a voz.
Sorrindo, Harry passou um braço ao redor dos ombros dela.
— E você desafia juízes, srta. Weasley?
— Frequentemente. Se tia Muriel não fosse amiga da esposa de Barclay, eu já o teria desafiado. Como é, sou uma advogada de escritório admirada.
— Então, por que você continua lá?
— Sou extremamente paciente. — A sensação do braço dele em seu ombro era agradável e, sem pensar, Gina se aproximou mais do corpo quente. — Tia Muriel não ficou feliz por eu ter escolhido advocacia, mas foi útil para assegurar minha posição com Barclay. Do jeito dela, ficou satisfeita que eu estivesse trabalhando para um velho amigo e para uma firma de prestígio. Se eu ficar mais tempo, eles podem até me oferecer algo a mais que acidentes de trânsito.
— Você tem medo dela?
Gina riu. O medo passara há anos.
— De tia Muriel? Não. Eu devo a ela.
— Deve? — murmurou Harry. — Meu pai tem um ditado: "Não existe cobrança em família."
— Ele não conhece tia Muriel. Oh, olhe as gaivotas. — Gina apontou para o céu quando um par delas voou acima do mar. Então tremeu e Harry a abraçou mais apertado.
— Com frio?
— Sim. — Mas ela sorriu. — Eu gosto disso.
A respiração de Harry era fria contra seu rosto. Gina estava tão hipnotizada pelos olhos dele que mal notou que o braço a seu redor a puxara para mais perto. Então, estavam face a face, Gina com os braços em volta da cintura dele. O coração que batia descompassado devia pertencer a outra pessoa. Ela ouviu o eco da água e sentiu como se os dois estivessem numa ilha deserta. Com uma das mãos, Harry segurou-lhe a nuca. Gina sentiu os pingos frios baterem em seu rosto antes mesmo de ver a neve.
— Está nevando.
— Sim. — Harry baixou os lábios para os dela. Lentamente, roçou-lhe a boca com sensualidade. Aos poucos, foi trazendo-a para mais perto, até que o corpo de Gina estivesse colado ao seu.
Ela sentiu os dedos fortes deslizando por sua nuca, e criou imagens mentais do que aquelas mãos podiam fazer com seu corpo. Enquanto se distraía com isso, a boca de Harry tornou-se mais exigente.
Gina segurou-lhe os ombros. Sua paixão parecia crescer como o vento, mas era quente, sufocante, enquanto ele depositava beijos em seus lábios e rosto. Ela ouviu o eco das ondas estourando, então nada além do seu nome sussurrado quando Harry traçou-lhe a orelha com a língua. Gina pressionou o corpo contra o dele, procurando pela boca maravilhosa.
Não houve provocação dessa vez. Agora era puro ardor. Nenhum dos dois tinha mais consciência do frio, enquanto exigiam tudo o que o outro possuía. Gina sentiu todos os seus pequenos segredos sendo expostos, enquanto parecia realizar desejos mais complexos e profundos do que jamais conhecera.
Não era apenas sede pela boca de Harry, ou desejo pelos braços fortes que a rodeavam... Era um desejo de total integração, de fazer amor. Um desejo primitivo de ser completada fisicamente e uma necessidade básica de ser preenchida emocionalmente.
Enquanto se entregava às sensações, de repente ficou incerta se Harry era sua corda de salvamento. A necessidade de sobrevivência sobrepôs-se ao desejo ardente e ela se afastou. Sem fôlego, encarou-o, enquanto o vento jogava neve em seus olhos.
— Bem. — Harry suspirou. — Isso foi inesperado. — Quando tentou tocar-lhe o rosto, ela recuou. Enfiando as mãos no bolso, ele disse: — Tarde demais para erguer barreiras agora, Gina. As fundações já foram abaladas.
— Não são barreiras, Harry. Apenas bom senso. Não sou seu tipo de mulher.
Alguma coisa brilhou nos olhos dele, mas Gina não sabia se era irritação ou divertimento.
— Você diz isso baseada no que sabe do meu passado.
— Tenho minhas dúvidas sobre sua reabilitação — replicou ela suavemente.
Harry pegou-lhe os cabelos na mão. Rindo, removeu flocos de neve do rosto dela.
— Gina, você combina com o deserto e roupas exóticas.
Ela lutou contra o desejo de sentir a pele dele contra a sua de novo.
— Combino perfeitamente com o Tribunal da Nova Inglaterra, também — retorquiu ela.
— Sim — Harry disse. O sorriso permanecia em seus olhos. — Acho que combina. Talvez por isso seja tão fascinante para mim.
— Não estou interessada em fasciná-lo, Harry. Estou interessada em voltar, antes que congele aqui.
— Eu a acompanho.
— Não é necessário — começou ela, mas ele pegou-lhe a mão.
— Você não está brava porque trocamos um beijo amigável, está? Afinal, somos família.
— Não houve nada de amigável ou familiar no beijo — murmurou Gina.
— Não. — Ele ergueu-lhe a mão até os lábios para beijar os dedos. — Talvez devêssemos tentar novamente.
— Não — respondeu ela com firmeza e tentou ignorar o arrepio que lhe percorreu o braço.
— Tudo bem. Vamos tomar o café da manhã, então.
— Não estou com fome.
— Ainda bem que você não está sob juramento — disse ele. — Quase não comeu ontem à noite. Mas tudo bem, tome um café enquanto eu como. Estou faminto. Vamos falar de negócios. — Harry ergueu uma mão, antecipando o protesto dela.
— Se isso a faz se sentir melhor, ponho isso nos meus honorários.
Com uma risada relutante, Gina subiu os degraus da praia com ele.
— Parece-me que você ainda não saiu completamente da política.
— Você não tem olhos de uma pessoa cínica — Comentou ele.
— Não?
— Eles se parecem com olhos de camelo. Cuidado, aqui está escorregadio.
— Camelo? — Sem saber se devia se sentir insultada ou divertida, Gina parou perto do topo dos degraus. — Que frase romântica!
— Você quer romance? — Antes que ela entendesse o que estava acontecendo, ele a pegou nos braços a fim de carregá-la em direção à entrada dos fundos.
Rindo, Gina tirou neve dos olhos.
— Ponha-me no chão, seu tolo.
Ele a ignorou.
— Se você escorregar nessa neve e me derrubar, vou processá-lo.
— Como você é romântica! — reclamou Harry, enquanto empurrava a porta com as costas. — O que houve com as mulheres que gostavam de ser carregadas no colo?
— Foram derrubadas — replicou Gina. — Harry, ponha-me no chão. — Ela tentou se livrar, mas ele a apertou ainda mais nos braços e continuou andando. — Você não vai me carregar para o restaurante do hotel.
— Não? — Aquilo era um desafio e Harry o aceitou com um sorriso. Ela era leve e carregava o cheiro da neve. Os olhos revelavam uma risada indignada que o agradava. Naquele momento, decidiu que poria aquela expressão no rosto de Gina com mais freqüência. A boca linda e sensual era feita para sorrir, e ele pretendia mostrar-lhe como era fácil se divertir.
— Harry. — Gina baixou o tom de voz quando sentiu olhares sobre si. — Pare com essa bobagem. As pessoas estão olhando.
— Tudo bem, estou acostumado com isso. — Virando a cabeça, ele a beijou brevemente. — Sua boca é muito tentadora com esse biquinho. — Harry parou e olhou para a atendente. — Mesa para dois?
— É claro, sr. Potter. — a moça fitou Gina por um momento. — Por aqui.
Gina cerrou os dentes enquanto ele a carregava entre as mesas repletas de hóspedes para o café da manhã. Observou uma mulher de meia-idade cutucar o marido e apontar.
— A garçonete virá em seguida — disse a atendente para Harry quando eles pararam a uma mesa de canto. — Bom apetite.
— Obrigado. — Com grande estilo, Harry sentou-a em uma cadeira e se acomodou do lado oposto.
— Você vai me pagar por isso — sussurrou Gina, envergonhada.
— Valeu a pena. — Ele tirou o casaco. Já tinha decidido que ela precisava de algo inesperado de vez em quando. Em sua opinião, Gina era mimada, protegida e restringida. Distraído, penteou os cabelos com os dedos, espalhando a neve já derretida. — Tem certeza de que não quer nada além de café, querida?
— Absoluta. — Observando-o, ela começou a desabotoar o casaco. — Você sempre faz coisas escandalosas?
— Frequentemente. Você é sempre tão linda pela manhã?
— Não desperdice seu charme. — Gina removeu o casaco, revelando um suéter laranja.
— Sem problemas, tenho de sobra. — Enquanto Gina suspirava com desgosto, ele sorriu para a garçonete que lhe entregou os cardápios. — Quero panquecas, acompanhadas de ovos com bacon - disse imediatamente. — A moça só quer café.
— Esse é um café da manhã normal para você? - perguntou Gina quando a garçonete se retirou.
Harry recostou-se, observando que ela já tinha esquecido de fingir que estava brava.
— Gosto de comer quando tenho chance. Às vezes, tenho sorte de poder me alimentar com mais do que galões de café e sanduíches secos.
— Você tem tantos casos particulares agora como tinha quando trabalhava para o estado? — perguntou Gina.
— Tenho o suficiente. E, por opção, não possuo uma equipe de assistentes.
— Sem advogados de escritório?
As mãos de Gina eram feitas para anéis, pensou ele, mas ela não usava nenhum.
— Não no momento. Minha secretária é desorganizada e viciada em novelas.
Gina sorriu suavemente enquanto erguia a xícara.
— Ela deve ter... outras virtudes.
Harry apoiou os cotovelos sobre a mesa e inclinou-se para frente.
— Ela tem 57 anos, é robusta e uma excelente datilógrafa.
— Admito que me enganei — murmurou Gina. — Contudo, com sua reputação, achei que você teria uma das melhores firmas em Boston.
— Deixo as tradições para Barclay, Stevens e Fitz.
— Faz muito bem. — Com um suspiro, ela deu um gole no café. — Eu trabalharia de graça se pudesse fazer alguma coisa que não saiu diretamente de um manual. Violações de trânsito e cobranças de dívidas — murmurou. — Porém, não vou conseguir nada se não permanecer na firma por mais um tempo. O mundo da lei não me daria uma ovação entusiástica se eu abrisse um escritório amanhã.
— É isso que você quer? Ovações entusiásticas?
— Gosto de vencer. — Os olhos sonolentos de súbito se tornaram intensos. — Pretendo fazer uma carreira disso. E quais são os seus motivos?
— Tenho um talento para discussão. A lei tem muitas sombras, certo? — Harry a fitou. — Nem todas são justas. Andamos sobre uma corda muito fina, e o equilíbrio é crucial. Gosto de vencer, também, e quando venço gosto de saber que estava certo.
— Você nunca defendeu alguém que sabia que era culpado?
— Todos têm direito legal a advogados e representação. Essa é a lei. — Ele bebeu um pouco do café. — Você é obrigado a dar-lhes o melhor que pode, e esperar que justiça seja feita no final. Nem sempre é assim. O sistema é ruim, e só funciona parte do tempo. — Dando de ombros, acrescentou: — É melhor do que nada. Interessada, Gina o estudou.
— Você não é o que eu esperava que fosse. — E o que você esperava?
— Talvez uma versão jovem mais dura de Barclay. Citando precedentes, um pouco de latim para efeito, alegando que a lei é talhada em granito.
— Ah, um tolo. — Gina caiu na gargalhada, e Harry adorou o som. — Você não faz isso com freqüência, Gina. Quero dizer, se divertir sem pensar muito.
— Meu treinamento. — Mesmo enquanto falava, aquilo a surpreendeu. Que portas ele estava abrindo, antes mesmo que ela tivesse a chance do checar as fechaduras?
— Você vai esclarecer isso?
— Não. — Ela meneou a cabeça, então olhou para cima. — Aí está seu café da manhã. Estou fascinada para ver se realmente vai comer tudo isso.
Segredos, pensou Harry enquanto a garçonete arranjava os pratos. Talvez fosse o jeito misterioso de Gina que o encantava. Ela parecia possuir tantas camadas, e ele queria remover cada uma delas para descobrir o que tinha por baixo. Então, havia a vulnerabilidade... não era comum encontrar uma mulher forte com um lado suave e vulnerável. A combinação, adicionada à óbvia paixão contida, era muito... atraente.
Harry lembrou-se do beijo que haviam compartilhado e quis prová-la novamente... sentir a pele escondida sob roupas discretamente sofisticadas. Pensava nas mulheres como quebra-cabeças intrigantes e gostava de resolvê-los. Nesse caso, podia aceitar o desafio, fazer o jogo, e mostrar-lhe que a vida não era tão cheia de fronteiras e regras quanto ela pensava. Sim, pensou, Gina Weasley iria mantê-lo ocupado e entretido por um bom tempo.
— Quer um pedaço? — Harry ofereceu-lhe uma garfada de panqueca.
— Com medo de ter exagerado no pedido? — Ele sorriu e aproximou o garfo da boca de Gina, que permitiu ser alimentada, fechando os olhos por um momento. — Oh, está ótima.
— Mais? — Harry comeu um pedaço antes de oferecer-lhe outro, o qual Gina aceitou.
— Aí estão vocês. — Hermione chegou à mesa, beijando primeiro o irmão, depois Gina. — Isso não é horrível? — murmurou, gesticulando para o prato de Harry. — E ele não ganha um grama. Você dormiu bem?
— Sim. — Gina deu um pequeno sorriso. — Meus aposentos são adoráveis.
— Quer café da manhã? — Harry perguntou para a irmã.
— Vai compartilhar o seu?
— Não.
— Bem, não tenho tempo, de qualquer forma.
Hermione voltou-se para Gina.
— Eu gostaria que você passasse no escritório mais tarde, Gina. Tem planos para hoje?
— Ainda não.
— Talvez queira aproveitar o clube ou o cassino. Eu adoraria mostrar-lhe tudo.
— Obrigada.
— Dê-me uma hora. — Hermione gesticulou para o irmão. — Acredite em apenas metade do que ele diz — aconselhou e partiu.
— Sua irmã não é o que eu esperava, também - murmurou Gina.
— Você sempre cria uma imagem na cabeça antes de conhecer alguém?
— E todo mundo não faz isso?
Harry deu de ombros e continuou a comer.
— Como esperava que Mione fosse?
— Mais robusta, para começar. Sua irmã parece tão frágil, até que você presta mais atenção e vê a força no semblante dela. E suponho que eu esperava alguém mais intelectual. Ela não é o tipo de mulher que eu imaginaria casada com Rony.
— Talvez ele não seja o que você pensa, também — disse Harry.
Instantaneamente, os olhos de Gina se tornaram frios e distantes.
— Não, eu não o conheço, certo?
— Nunca é fácil conhecer alguém, a menos que você queira.
— Não é fácil aconselhar sobre um assunto do qual você não sabe nada — retorquiu ela, irritada. — Você teve uma boa infância, não teve, Harry? Mãe, pai, irmãos. Sabia exatamente quem era e a que lugar pertencia. Não tem o direito de analisar ou desaprovar meus sentimentos quando não os compreende.
Harry recostou-se e acendeu um cigarro.
— Era isso o que eu estava fazendo?
— Acha que é fácil apagar vinte anos de negligência, de desinteresse? Precisei de meu irmão um dia, não preciso dele agora.
— Então, por que você veio?
— Para exorcizar os últimos fantasmas. — Ela empurrou a xícara de café para o lado. — Eu queria vê-lo como um homem para que parasse de me lembrar de Rony como um menino. Quando eu partir, não vou pensar mais nele. Harry a olhou através da fumaça.
— Você não pode fingir que é feita de gelo e aço para mim, Gina. Eu estava a seu lado ontem, depois que você viu seu irmão. — Isso acabou. Você não gosta que eu a veja como humana, gosta? — Quando ela começou a se levantar, ele segurou-lhe o pulso. — Se quer ser vencedora, Gina, precisa parar de fugir.
— Não estou fugindo.
— Você tem fugido desde que saiu daquele avião — corrigiu ele. — E provavelmente desde muito antes. Está magoada e confusa, e é teimosa demais para admitir, até para si mesma.
— O que sou — disse ela por entre os dentes — não é problema seu.
— Os Potters levam a família muito a sério. -seus olhos se estreitaram, a cor se intensificou. - Quando minha irmã se casou com seu irmão, você se tornou problema meu.
— Não quero seu conselho de irmão.
Ele sorriu, então afrouxou o aperto no pulso dela.
— Não me sinto seu irmão, Gina. — Harry usou o polegar para acariciar-lhe os dedos sensualmente. — Acho que ambos sabemos disso.
Ele podia mudar de humor mais rapidamente do que ela. Levantando-se, Gina lhe lançou um olhar furioso.
— Eu preferia que você não sentisse nada por mim.
Harry deu uma longa tragada no cigarro.
— Tarde demais — murmurou, então sorriu novamente. — Os escoceses são pragmáticos, mas estou começando a acreditar em destino.
Gina pegou seu casaco e dobrou-o meticulosamente sobre o braço.
— Na língua da tribo Ute, comanche significa inimigos. — Ela ergueu os olhos furiosos para ele e, pela primeira vez, Harry viu o poder total da herança indígena no rosto bonito de Gina. — Nós não somos facilmente dominados. — Virando-se, saiu andando com passos controlados de uma dançarina.
Com um sorriso, Harry apagou o cigarro. Estava começando a pensar que aquela seria uma batalha muito interessante.
N/a: Mais um capítulo aí genteee!! \o/
Desculpa a demora, mas eu ando muito ocupada ultimamente! =/
Mas eu juro que vou fazer o máximo para não demorar tanto da próxima vez!
Mas eae, o que acharam desse capítulo?
Esperoo novos comentários!
Façam uma autoraa felizzz! *-------*
beeijOs