Gina estudou a formação de nuvens abaixo e questionou-se se a viagem que estava fazendo tinha sido calculada ou um mero impulso. Embora o avião fosse aterrissar em menos de trinta minutos, ainda estava incerta.
Fazia quase vinte anos que não via seu irmão. Pensava nele como um adolescente distante, empolgado e carinhoso. Amara-o com toda a intensidade que uma menininha de seis anos podia amar um garoto de dezesseis.
A imagem que tinha do irmão estava congelada no passado... um jovem bonito com cabelos ruivos e olhos verdes. Lembrava-se de um ar arrogante de orgulho e auto-suficiência. Ele era solitário. Mesmo aos seis anos, Gina entendera que Rony Weasley seguiria seu próprio caminho.
Com um suspiro, recostou-se no assento confortável da primeira classe. Rony certamente tinha seguido o próprio caminho vinte anos atrás. Quando os pais deles morreram, ele a confortara, Gina supunha. Mas na época estava muito confusa para entender. Pensava que os pais haviam morrido por sua causa. Se fosse comportada e prestasse atenção às aulas, seus pais voltariam. Então, tia Muriel chegou e Rony partiu. Por meses, ela acreditou que ele tinha ido para o céu, também, cansado das lágrimas e perguntas da irmã. A tia a levara para o leste, para um mundo e uma vida diferente. E duas décadas se passaram sem que Rony a contatasse.
Então, agora ele estava casado, pensou Gina. Talvez porque ainda o visse como adolescente, não conseguia imagina-lo como marido. Hermione Potter, repetiu o nome silenciosamente. Estranho ter uma cunhada quando mal sentia que tinha um irmão.
Oh, sabia alguma coisa sobre os Potters. Tia Muriel não consideraria a sua educação completa se Gina não conhecesse a história de uma das principais famílias do país... particularmente quando moravam perto o bastante de Boston para serem consideradas vizinhas.
Thiago Potter era o patriarca, um escocês de puro sangue e mago financeiro. Lilian Potter, sua esposa, uma cirurgiã altamente respeitada. Alan, o filho mais velho, era senador dos Estados Unidos.
Harry Potter. Gina parou sua lista mental. Embora ele tivesse cerca de 30 anos, ela ouvira o nome dele nos corredores da Universidade de Direito de Harvard. Tanto ela quanto Harry haviam escolhido a advocacia e Gina estudara para a mesma profissão e andara pelos mesmos corredores. Ele se formara um ano antes que ela ingressasse e já tinha começado o que parecia ser uma carreira brilhante.
Na época da faculdade, Gina tinha ouvido muitos comentários sobre Harry. O inestimável Potter era altamente mulherengo.
Então havia Hermione, aparentemente uma mulher brilhante... característica que parecia estar presente nos genes Potter. Ela se formara em Smith com honras, então passara os anos seguintes acumulando diplomas. Parecia um par estranho para Rony Weasley.
Por um momento, Gina considerou se teria ido ao casamento deles caso estivesse no país. Sim, decidiu. Era curiosa demais para não comparecer. Afinal, estava indo para Atlantic City agora principalmente por curiosidade. Mas também, teria sido infantilidade e rudeza recusar o convite que Hermione lhe enviara. Havia duas coisas que tia Muriel lhe ensinara: não ser infantil nem rude com as pessoas. Gina esqueceu a tia e abriu a carta de Hermione.
Querida Gina,
Fiquei muito desapontada por você não ter podido vir ao casamento, no último outono, porque estava em Paris. Eu sempre quis uma irmã, e agora que tenho uma, é frustrante não poder apreciá-la. Rony fala de você, mas as lembranças dele são de quando você era garotinha, e quero conhecê-la pessoalmente. Rony também está ansioso para ver a mulher na qual você se transformou depois de todos esses anos.
Juntamente com essa carta, estou lhe enviando uma passagem de avião. Por favor, venha e seja nossa hóspede no Hotel Comanche por quanto tempo quiser. Você e Rony têm muitas coisas para pôr em dia, e eu tenho uma irmã para conhecer.
Mione.
Gina arqueou uma sobrancelha enquanto dobrava a carta. Carinhosa, aberta, amigável, pensou. Não era o tipo de mulher que imaginava
Ela provavelmente não apareceria, pensou Harry quando andou em direção ao terminal. Uma vez que Gina Weasley não respondera a carta de Hermione, ele não entendia por que sua irmã tinha tanta certeza que ela estaria no avião. E por que ele tinha se permitido fazer o papel de motorista?
Mione teria ido se o movimento no hotel não estivesse tão grande, lembrou. E desde o inferno pelo qual haviam passado poucos meses atrás, com Rony. Então riu. Nem mesmo conhecia o homem chamado Rony Weasley.
Se houvesse uma parte em si que queria conhecê-lo, ela enterrara há muito tempo. Precisara fazer isso para sobreviver no mundo de sua tia. Mesmo agora, se tia Muriel soubesse que ela estava indo passar um tempo com Rony num hotel de jogos, ficaria horrorizada.
Gina olhou para as nuvens novamente. Não importava, pensou. Encontraria seu irmão e a esposa, satisfaria sua curiosidade e depois partiria. A garotinha que idolatrara Rony sem questionamento não existia mais. Tinha a própria vida, sua carreira. A relação dos dois estava estagnada há muito tempo. Era ano-novo, lembrou-se. A época perfeita para renovações.
Harry vinha atendendo os desejos da irmã. Caso contrário, estaria esquiando no Colorado, em vez de em uma praia em pleno inverno.
Uma rajada de vento moveu a gola de seu casaco quando ele chegou à entrada do terminal. Uma loira elegante passou e o olhou de cima a baixo. Ele deu um sorriso breve antes que a moça se afastasse.
Magro, com feições fortes, olhos que beiravam a cor verde e cabelos pretos, Harry tinha consciência de sua boa aparência e se sentia bem com isso.
Continuou andando ao longo do terminal. Com uma breve olhada no monitor, checou o portão de saída do vôo de Boston. Então, sentou para esperar a mulher que provavelmente não apareceria.
Quando a chegada foi anunciada, acendeu um cigarro. Esperaria até que o último passageiro descesse, depois voltaria para o hotel. Hermione ficaria satisfeita, e ele passaria a tarde na academia de ginástica. Desde que se formara como advogado e começara a trabalhar, não tinha tempo para um dia de lazer, muito menos para um fim de semana inteiro.
Os próximos sete dias, contudo, seriam dedicados a não fazer nada. Não pensaria no caos de seu escritório, ou nos casos que teria de recusar depois porque não haveria horas suficientes no dia.
Harry a reconheceu no minuto em que a viu. As maçãs salientes do rosto eram muito parecidas com as de Rony, assim como o tom de pele quase dourado. A herança indígena que eles compartilhavam era talvez até mais aparente na irmã. Os olhos não eram verdes como os de Rony, mas de um rico castanho— escuro. Olhos de camelo, pensou Harry quando se levantou. Cílios longos e pálpebras que pareciam sonolentas. O nariz era reto e aristocrático, a boca, desejosa. Não era um rosto que um homem poderia esquecer facilmente. Bonita, atraente, sexy.
Quando Gina trocou a sacola de braço, os cabelos ruivos balançaram, sem tocar os ombros. Os cabelos lisos estavam soltos, e havia uma franja sobre a testa, um estilo que combinava com ela.
Sem ser notado, Harry observou-lhe o corpo. Quadris estreitos, cintura fina e ombros de nadadora. Andava como uma dançarina, confiante, com ritmo, e quando ele parou à sua frente, ela o olhou brevemente, sem demonstrar interesse.
— Com licença — murmurou, como se ele estivesse em seu caminho.
Interessante, pensou Harry, e não se incomodou em sorrir.
— Gina Weasley? Ela franziu o cenho.
— Sim?
— Sou Harry Potter, irmão de Mione. — Olhando-a fixamente, ele estendeu a mão.
Então, aquele era o terrível Potter, pensou Gina, aceitando a mão oferecida.
— Prazer. — O aperto de mão firme enviou-lhe um estranho arrepio pelo braço. Gina o reconheceu, quebrou o contato e o esqueceu.
— Mione teria vindo pessoalmente — continuou ele — mas houve um imprevisto no hotel. — Porque era um homem que podia ser diplomático, falou enquanto tentava pegar a sacola do ombro dela: — Eu não esperava que você viesse.
— Não? — Gina manteve a mão na alça da sacola, impedindo que ele a pegasse. — E a sua irmã?
Harry considerou lutar pela sacola. Alguma coisa naqueles olhos sonolentos o fazia querer irritá-la. Dando de ombros, baixou a mão.
— Ela tinha certeza de que você viria. Mione acredita que todos possuem fortes sentimentos familiares. — Ele sorriu antes de segurar-lhe o braço. — Vamos pegar as suas malas.
Gina permitiu que ele a conduzisse pelo corredor congestionado, enquanto mantinha a mente alerta.
— Você não simpatizou comigo, não é, sr. Potter?
Harry arqueou as sobrancelhas, mas nem mesmo a olhou.
— Não conheço você. Mas já que é da família, por que não deixamos de formalidades?
Gina pensou em um dos motivos pelos quais ele era tão bem-sucedido na profissão. A voz era muito rica, melodiosa, mas firme.
— Tudo bem — concordou ela. — Diga-me, Harry, se não estava me esperando, como sabia quem eu era?
— Você é muito parecida com Rony.
— Verdade? — murmurou ela quando pararam diante da esteira de malas.
Harry a estudou novamente com a mesma intensidade de antes. Não podia identificar bem o sotaque dela, mas lembrava um pouco o francês. Perguntou-se se combinava com Gina tanto quanto o belo casaco de lã.
— A semelhança familiar está presente — comentou. — Mas acho que seria menos aparente se vocês ficassem lado a lado.
— Isso é algo que tive poucas oportunidades de fazer — respondeu ela, e indicou suas malas com um gesto da mão.
Acostumada com empregados, concluiu Harry quando pegou as duas malas de couro.
— Tenho certeza de que Rony ficará feliz em vê-la depois de tantos anos.
— É possível. Você parece gostar bastante dele.
— Eu o conheço há dez anos. Era meu amigo antes de se tornar meu cunhado.
Ela queria perguntar como Rony era, mas conteve-se. Tinha sua própria opinião. Se fosse mudá-la, não seria pelas influências de Harry ou de qualquer outra pessoa.
— Você vai ficar hospedada no Comanche?
— Por uma semana.
Assim que saíram no ar frio de janeiro, Gina automaticamente enfiou as mãos nos bolsos do casaco. O céu estava azul, e as ruas escorregadias com a neve derretida.
— Não é uma época do ano estranha para tirar férias na praia?
— Para alguns. — O vento levou cabelos aos olhos de Harry, mas ele não pareceu notar. — Muitas pessoas vêm para jogar. O clima não importa quando você está dentro de um cassino.
Gina inclinou o rosto para fitá-lo.
— Foi para isso que você veio?
— Não particularmente. — Ele olhou para baixo e descobriu que o sol dava um brilho levemente dourado aos olhos dela. — Gosto de um jogo ocasionalmente, mas Mione é a jogadora da família.
— Então, ela e Rony devem combinar bastante.
Harry pôs as malas no chão e tirou a chave do bolso.
— Deixarei que você decida isso por si mesma. - Sem falar, colocou a bagagem no porta-malas, e depois abriu o carro. — Gina... — Harry tocou-Ihe o braço antes que ela pudesse entrar.
Ela nunca imaginara que seu nome pudesse soar assim... suave e vagamente exótico. Quando o olhou, ele afastou-lhe a franja dos olhos num gesto que parecia totalmente natural. Surpresa pelo toque que a desconcertava, Gina não disse nada.
— As coisas nem sempre são o que parecem - murmurou Harry.
— Não entendo você.
Por um momento, os dois ficaram apenas se entreolhando no estacionamento do aeroporto.
Gina achou que quase podia sentir a textura da mão forte através do grosso casaco. Os olhos, pensou, eram estranhamente gentis num rosto de feições fortes. Por um instante, esqueceu-se da reputação de Harry como um "demônio" no tribunal... e na cama. De repente, o queria... para ajudá-la, aconselhá-la, confortá-la, antes que tivesse consciência que precisava de qualquer dessas coisas.
— Você tem um rosto lindo — disse Harry. — Possui também alguma compaixão? - Gina franziu o cenho.
— Gosto de pensar que sim.
— Então, dê uma chance a seu irmão.
O olhar intrigado de Gina foi substituído por uma expressão fria e reservada. Embora ela não soubesse, era um olhar que Rony costumava adotar às vezes.
— Algumas pessoas podem considerar a minha vinda como um sinal de boa-fé.
— Alguns podem — concordou Harry, então rodeou o carro para abrir a porta do motorista.
— Mas você não considera. — Ela bateu a porta com mais força que o necessário.
— Tenho a impressão de que você veio mais por curiosidade.
— Deve ser gratificante estar certo com tanta freqüência.
Ele deu um sorriso rápido e poderoso.
— Sim — concordou, pondo o Jaguar em funcionamento. — Por segurança, por que não tentamos ser amigos? Como foi em Paris?
Conversa à-toa, decidiu ela. Desligar o cérebro e dar somente respostas padrão. Gina recostou-se. Apreciaria o trajeto. Uma de suas paixões secretas era por carros bons e velozes.
Estava frio.
— Há um pequeno café na rue du Four que adoro — lembrou Harry. — Os melhores suflês da cidade.
— Henri's? - Ele lhe lançou um olhar curioso.
— Você conhece?
— Sim. — Com um pequeno sorriso, Gina olhou pela janela. Henri’s era um pequeno barzinho na cidade. Tia Muriel preferia morrer de fome a por os pés lá. Gina adorava o lugar e sempre passava uma ou duas horas lá quando Paris. Estranho que o local também fosse o favorito de Harry Potter. — Você vai a Paris com freqüência?
— Não mais.
— Minha tia está morando lá agora. Eu a ajudei a procurar um apartamento.
— Em que parte de Boston você mora?
— Acabei de me mudar para uma casa na rua Charles.
— O inevitável mundo pequeno — murmurou Harry. — Parece que somos vizinhos. O que você faz em Boston?
Gina virou-se para estudá-lo.
— O mesmo que você. — Harry a olhou, a expressão interrogativa. — Lembra-se do prof. Whiteman? — continuou ela. — Ele fala muito bem de você.
Harry sorriu.
— Então, você fez Direito em Harvard. Parece que temos muito em comum. Família, universidade, carreira. Você está advogando?
— Trabalho para Barclay, Stevens e Fitz.
— Hum, muito prestigioso. E sério.
Pela primeira vez, Gina deu um sorriso sincero.
— Pego todos os casos fascinantes. Na semana passada, representei o filho de um intendente municipal que tem o hábito de ignorar o limite de velocidade.
— Você vai subir na profissão em quinze ou vinte anos.
— Tenho outros planos — disse Gina. Quando chegasse aos trinta anos estaria pronta para uma mudança. Depois de quatro anos com uma firma conservadora e respeitada, teria a experiência necessária para começar seu próprio negócio. Um pequeno escritório elegante, uma secretária competente, e então... — E quais são?
Ela voltou ao presente. Não era uma mulher que punha todas as cartas na mesa.
— Quero me especializar em direito criminal — falou simplesmente.
— Por quê?
— Uma sede por justiça, direitos humanos. — Rindo, olhou para Harry. — E adoro uma boa briga.
Ele assentiu com um gesto de cabeça. Talvez ela não fosse tão "certinha" quanto o traje indicava.
— Você é boa nisso?
— Uma estudante do segundo ano de Direito poderia perfeitamente fazer o que faço no momento. — Ela ergueu o queixo. — Sou muito melhor do que isso... e pretendo ser a melhor.
— Uma ambição admirável — comentou Harry quando virou o carro em direção ao Hotel Comanche. — Essa também é a minha meta.
Gina deu-lhe um olhar frio.
— Teremos de ver quem chega lá primeiro, certo?
Como resposta, Harry apenas sorriu. Gina pensou ter visto uma ponta daquela energia perigosa e volátil que o levara ao topo. Sem falar, desceu do carro. Não era desafiada por sorrisos cruéis e olhares penetrantes. Se havia uma área na qual se sentia totalmente confiante, era em Direito. Harry Potter ouviria seu nome por muitos anos, e se lembraria de suas palavras.
- As malas da srta. Weasley estão no porta-malas — Harry disse ao porteiro, entregando-lhe uma nota dobrada e as chaves. — Estou certo de que Mione quer vê-la imediatamente — continuou, pegando o braço de Gina de novo. — A menos que você prefira ir para seus aposentos antes.
— Não. — Mione queria vê-la, não Rony. Gina sentiu um nó no estômago e esforçou-se para ignorá-lo.
— Ótimo. Então, vamos subir direto.
Ela olhou ao redor, absorvendo a elegância do saguão.
— Então, isso é de Rony.
— Ele possui apenas metade deste hotel — corrigiu Harry quando eles entraram no elevador. — Mione tomou-se sócia dele no último verão.
— Entendo. Foi assim que eles se conheceram?
— Não. — Ele riu. — Tenho certeza de que Mione vai lhe contar como eles se conheceram, embora talvez você precise conhecer meu pai para entender completamente. — Ele lhe deu um longo olhar, então enrolou a ponta dos cabelos dela nos dedos, movido pelo perfume sedutor que a rodeava. — Você é realmente linda, Gina.
Era o modo como ele pronunciava seu nome que lhe causava aquele estranho arrepio, pensou ela. O homem era especialista em deixar as mulheres sem graça, lembrou. E fazê-las gostar disso.
— Você deixou uma certa reputação em Harvard, Harry. E não somente na sala de aula.
— É mesmo? — Aparentemente divertido, ele retirou a mão dos cabelos dela. — Você precisa me contar sobre isso uma hora dessas.
— Algumas coisas não precisam ser ditas. — Quando as portas se abriram, Gina saiu, então olhou por sobre o ombro. — Embora eu sempre tenha me perguntado se a história do incidente na biblioteca da faculdade foi baseada num fato.
— Hum. — Coçando o queixo, Harry a seguiu. — Eles ainda falam sobre isso?
Gina escondeu um sorriso enquanto o estudava. Ele não estava embaraçado, mas parecia curioso.
— Algumas coisas viram lenda — disse ela.
Harry virou a maçaneta e deu-lhe um sorriso charmoso.
— Você não acredita em tudo o que ouve, acredita, advogada?
Gina fez uma pausa antes de retribuir o sorriso.
— Sim. — Com isso, abriu a porta e entrou.
Ela não sabia bem o que esperava, mas certamente não era a elegância aconchegante da suíte de seu irmão. Tons suaves contrastavam com tons mais fortes, uma vista panorâmica para Atlantic City, pequenas esculturas magníficas, quadros em tom pastel, móveis convidativos sobre um tapete espesso.
Aquele era o gosto de seu irmão?, perguntou-se, de repente se sentindo mais distante dele do que nunca. Ou era o gosto de Hermione? Quem era aquele homem que compartilhava sua herança familiar? E por que ela estava ali, abrindo-se para emoções que há muito já trancara? Emoções que precisavam permanecer trancadas, disse a si mesma. Isso era sobrevivência. Num momento de pânico, virou-se em direção à porta, mas deparou-se com Harry.
— De quem você vai fugir? — perguntou ele, segurando-lhe os braços. — De Rony ou de si mesma?
Gina ficou tensa.
— Isso não é da sua conta.
— Não — concordou ele, desviando os olhos pára a boca de Gina. Ela estava nervosa, pensou. Como seria beijá-la naquele momento, fazendo-a relaxar? Ele sempre preferira mulheres mais extravagantes... que sabiam como rir e amar sem restrições. Mas esse, afinal, seria um teste. Não havia a menor chance de envolvimento.
Houve uma tentação momentânea de provar-lhe a boca e satisfazer sua curiosidade. O fato de que a resposta dela podia ser tanto de fúria como de paixão tornou ainda mais difícil resistir.
Gina sentiu o desejo surgir inesperadamente. De alguma maneira, sabia que ele poderia lhe dar prazer. Não haveria incertezas, pensamentos ou justificações. Ela poderia encontrar aquele mundo proibido se quisesse.
Por um momento, vacilou entre a tentação e a razão. Seria tão fácil...
Um leve ruído mecânico a levou de volta à realidade. Gina virou a cabeça em direção às portas de um elevador que não tinha notado. Harry deslizou as mãos para os ombros dela e tirou-lhe o casaco enquanto eles entravam.
Ela viu uma mulher pequena e morena, usando um vestido simples, violeta, que combinava com a cor dos olhos.
— Gina. — Hermione aproximou-se e a envolveu num abraço caloroso. — Estou tão feliz que você veio! — Afastando-se do abraço, segurou ambas as mãos da cunhada nas suas. — Oh, você é adorável! — murmurou com um sorriso alegre. — E se parece tanto com Rony, certo, Harry?
— Hum. — Ele observou o encontro enquanto acendia um cigarro.
Meio intimidada pelo cumprimento, Gina deu um passo atrás.
— Hermione, quero agradecer-lhe pelo convite.
— Deixe disso — replicou Hermione. — Somos da mesma família agora. Harry, que tal um drinque? Gina, do que você gostaria? Gina deu de ombros.
— Um pouco de vermute. — Nervosa demais para se acomodar, foi até a janela. — O hotel é lindo, Hermione. Harry me contou que você e Rony são sócios.
— Nesse hotel, e no que estamos reconstruindo em Malta. Ainda não sou sócia dos outros, mas serei. — aceitando o copo que Harry lhe entregava, Hermione sentou no sofá.
— Gina e eu somos vizinhos. — Harry atravessou a sala com outro copo e o ofereceu á Gina.
— Verdade?
O momento estranho tinha passado, disse Gina a si mesma. Mas quando aceitou o drinque de Harry e seus olhos se cruzaram e os dedos se roçaram, decidiu que não estava tão segura quanto gostaria.
— Sim. — Deliberadamente, ela deu as costas para Harry e voltou-se para Hermione. — É uma grande coincidência.
Harry sorriu e andou de volta para o bar.
— Mais do que uma coincidência. Nós temos a mesma profissão.
— Você é advogada? — Hermione observou os olhos de Gina seguirem Harry. Parece que meu irmão não perde tempo, pensou, então deu um gole no drinque.
— Sim, entrei em Harvard alguns anos depois de Harry. Mas a presença dele ainda era sentida — acrescentou Gina.
Hermione deu uma gargalhada.
— Oh, não duvido. Você deve ter ouvido histórias picantes. — Ela sorriu para o irmão.
— Sua fé em mim é tocante — murmurou Harry. Eles eram próximos, pensou Gina. Sempre tinham convivido e sabiam diversas histórias um do outro. Ela olhou para seu drinque. O que estou fazendo aqui?
— Hermione, quero que saiba que apreciei o seu convite, mas — Gina parou e fortificou-se com um gole do vermute — , eu gostaria de saber se Rony se sente tão desconfortável com essa situação quanto eu.
— Ele não sabe que você veio. — Quando Gina arregalou os olhos, Hermione se apressou: — Eu não tinha certeza se você viria, Gina. Não queria que ele ficasse magoado se você recusasse.
— Ele ficaria? — questionou Gina.
— Você não o conhece — disse Hermione, então levantou. — Por favor, não o rejeite. Ele é...
Com o som do elevador, Hermione parou, e Gina observou as portas se abrirem.
— Finalmente a encontrei. — Rony andou diretamente para a esposa. — Você sumiu.
— Rony... — Hermione foi calada por um beijo ardente do marido.
Ele era tão alto, confiante, bem-sucedido, pensou Gina enquanto o observava. O que restara do garoto temperamental que conhecera? Aquele era seu irmão? Ele a erguera nos ombros uma vez para que ela pudesse ver o circo da cidade do alto. Meu Deus, por que se lembrar disso agora?
— Rony — começou Hermione de novo, depois de interromper o beijo. — Nós temos companhia.
Ele deu uma olhada breve para Harry, então puxou Hermione para si.
— Vá embora, Harry, quero fazer amor com a sua irmã.
— Rony. — Rindo, Hermione pressionou a mão contra o peito dele. Quando olhou em direção à janela, Rony seguiu seu olhar.
— Oh. — Sorrindo, acariciou os cabelos da esposa, mas não a soltou. — Eu não sabia que Harry tinha trazido uma amiga.
Ele nem mesmo me conhece, pensou Gina. Somos estranhos. Sentindo-se perdida, olhou-o, lutando por palavras que não saíram.
Lentamente, os olhos de Rony se estreitaram. Hermione sentiu a mão dele se apertar em seus cabelos, então liberá-los.
— Gina? — Havia reconhecimento e incredulidade no nome.
Totalmente imóvel, ela murmurou:
— Rony.
Ele aproximou-se, estudando-lhe o rosto. O tempo estava voltando tão rapidamente que o deixou trêmulo e desorientado. Queria tocá-la, mas não sabia como. Ela era tão pequenina e gorducha quando a deixara. Agora, era uma mulher alta e magra, com os olhos de seu pai. Os dois ficaram se entreolhando por alguns momentos.
— Você cortou seu rabo-de-cavalo — murmurou ele e se sentiu tolo.
— Há muitos anos. Você parece bem, Rony — disse ela com um sorriso educado, e tremendo por dentro.
Qualquer abertura que ele quisesse dar foi quebrada por aquela sentença impessoal.
— Você também. Como está sua tia?
— Tia Muriel está bem. Está morando em Paris agora. Seu hotel é maravilhoso.
— Obrigado. — Rony sorriu e enfiou, as mãos no bolso. — Espero que você fique conosco por um tempo.
— Por uma semana — respondeu ela friamente. — Eu não lhe dei os parabéns por seu casamento, Rony. Espero que seja feliz.
— Sim, eu sou.
Achando insuportável aquela conversa superficial, Hermione deu um passo à frente.
— Por favor, sente-se, Gina.
— Se não se importam, eu gostaria de desfazer as malas.
— É claro. — Rony falou antes que Hermione protestasse: — Você janta conosco?
— Eu adoraria.
— Eu lhe mostrarei seus aposentos. — Harry acabou o resto do drinque e o pôs de lado.
— Obrigada. — Gina foi para a porta, parou e sorriu para Hermione. — até mais tarde, então.
Houve uma leve, porém inconfundível expressão de desaprovação nos olhos cor de violeta.
— Avise se precisar de alguma coisa. Às oito horas está bom para você?
— Estarei pronta. — Sem olhar para trás, Gina andou para a porta que Harry já mantinha aberta. Nenhum dos dois falou enquanto seguiam pelo corredor.
Silenciosamente, Harry tirou uma chave do bolso e destrancou a porta. Gina entrou, então se virou, pretendendo agradecer a ele. Mas Harry fechou a porta.
— Sente-se.
— Se não se importa, eu realmente gostaria de...
— Por que não termina esse drinque?
Olhando para baixo, Gina percebeu que ainda segurava o copo na mão. Dando de ombros, virou-se como se estivesse estudando o cômodo.
— Muito bonito — comentou, sem ter idéia para o que estava olhando. — Obrigada por me trazer até aqui, Harry. Agora, quero desfazer as malas.
— Sente-se, Gina. Não vou sair enquanto você estiver agitada assim.
— Eu não estou agitada! — Ela deu um gole no vermute. — Estou cansada, portanto...
— Eu observei você. — Com firmeza, Harry a segurou pelos ombros e sentou-a em uma cadeira. — Se tivesse ficado parada lá mais cinco minutos, teria desmaiado.
— Isso é ridículo. — Gina pôs o copo sobre a mesa.
— É? — Ele pegou-lhe as mãos entre as suas e acariciou-a enquanto a olhava. — Suas mãos estão geladas. Seus olhos também não mentem, Gina. Você não poderia ter dado alguma coisa a Rony?
— Não. Não tenho nada para dar a ele. — Livrando as mãos, ela levantou. — Por favor, deixe-me sozinha.
Eles estavam muito perto agora.
— Teimosa — murmurou Harry, e traçou o formato da boca de Gina com o polegar. Com um suspiro, afastou-lhe os cabelos do rosto. Ela sentiu tudo sair de foco. — Você se machuca amarrando seus sentimentos dessa maneira.
— Você não sabe nada dos meus sentimentos. — A voz era baixa e ela lutou contra as lágrimas que lhe nublavam a visão. Não ia chorar... não na frente dele ou de ninguém. Não havia absolutamente nada pelo que chorar. — Meus sentimentos não são da sua conta. — Reprimindo um soluço, pôs a mão na boca. — Deixe-me sozinha — exigiu, mas encontrou-se aninhada contra o peito dele.
— Quando você terminar — sussurrou Harry e a abraçou.
O conforto sem questionamento era mais do que Gina podia resistir. Cedendo, liberou as emoções num acesso de choro.
N/a: Aeeeeee..primeiro capítulo on!
Espero que vocês tenham gostado dessa nova história!
Eu simplesmente adorei ela quando a li e então resolvi adaptar para cá! ^^
Comentem para eu saber se vcs gostaram ou não da fic!
beeijOs
e até o próximo cap.!